Esse artigo é baseado nas previsões que li do economista Adolfo Sachsida. Segundo esse brilhante economista, estamos prestes a entrar num período de turbulência econômica no Brasil que vai gerar sérios estragos. A tragédia é equiparada ao que houve no Brasil na década de 1980, quando erros da década de 1970 foram responsáveis pela crise brasileira. Segundo o Sachsida, o governo tem trabalhado apenas em soluções de demanda agregada, renegando reformas importantes, como a da legislação trabalhista, a previdenciária e a tributária. Ou seja, o governo deveria focar em políticas do lado da oferta. Ao expandir o crédito e os gastos públicos, o governo tem sido um péssimo condutor de política econômica. Além disso, nos próximos anos, por conta da Copa do Mundo e das eleições o gasto público vai aumentar, endividando mais ainda o governo. O resultado? Crise econômica. Pretendo nesse artigo explorar mais essa visão que podemos chamar de crítica em relação à política econômica oficial.
Durante o governo Lula, milhões de brasileiros saíram da pobreza e aumentaram sua renda e se depararam com uma política de crédito fácil: além de ficaram comparativamente mais ricos, ficou mais fácil pegar dinheiro emprestado. Segundo matéria do Estadão em 30 de dezembro, no ano de 2012 consumidores deram um calote de R$ 44 bilhões. Isso mesmo: pegaram emprestado e não puderam pagar. O governo facilitou o crédito e fez com as pessoas criassem expectativas erradas: como estavam aumentando de renda, poderiam se endividar. O leitor pode tomar o seu dia-a-dia como exemplo: nos últimos anos, notou que ficou mais fácil ter cartões de crédito com limites altos? Que ficou mais fácil se endividar em valores que igualam ou até superam o próprio salário? Os principais responsáveis por essa farra de crédito foram os bancos federais. Essa atitude trouxe para o mercado de crédito maus pagadores e os bancos privados já estão ajustando suas expectativas. O problema é que o governo Dilma insiste nessa política, e bancos privados estão sendo pressionados a fazer o mesmo que os bancos federais. Por quê? O atual governo confia na política de demanda agregada: se o governo incentivar o consumo, o nosso produto vai crescer o desemprego diminuir, isso vai evitar que o Brasil seja vítima de flutuações econômicas. Além do crédito, o governo tem cortado impostos para alguns bens, como eletrodomésticos e carros. Mas isso não indica nenhum caminho em relação a uma política de oferta, porque em contraponto o governo aumentou vários impostos, principalmente de importação, para proteger a indústria nacional. Mas como essa política está se saindo? Vamos aos números do PIB:
Acumuladas ao longo do ano | 2011 | 2012 | ||||
II | III | IV | I | I | III | |
PIB a preços de mercado | 3,76 | 3,20 | 2,73 | 0,75 | 0,62 | 0,70 |
PIB (valor adicionado a preços básicos) | 3,36 | 2,89 | 2,47 | 0,60 | 0,53 | 0,62 |
Agropecuária | 1,17 | 2,82 | 3,90 | -8,54 | -3,00 | -1,03 |
Indústria | 2,94 | 2,25 | 1,58 | 0,07 | -1,22 | -1,12 |
Serviços | 3,84 | 3,20 | 2,73 | 1,58 | 1,54 | 1,48 |
Fonte: IBGE |
O PIB tem tido um mau desempenho em 2012, no último semestre registramos alta de 0,62%, mas com queda na agropecuária e na indústria (apenas o setor de serviços cresceu). Em 2009, com a crise financeira, o PIB caiu 0,3%, e em decorrência disso, em 2010 o PIB cresceu 7,5%. Não é um número bom ou espetacular dado que anteriormente o produto havia caído. Em 2011 nós tivemos um crescimento de 2,7%, ficando atrás do Chile, com 6%, e da China, com 9,3%. Em 2012 o PIB deve ficar em torno de 1%, um péssimo número. O ministro Guido Mantega tem colocado a culpa no cenário internacional e argumentado que o PIB europeu também está crescendo pouco. Todavia, este parece um argumento ruim dado o crescimento de outros emergentes, como o Chile, a China e a Índia, que cresceram mais que o dobro do Brasil. Na realidade, em 2011, até alguns países europeus, como a Suécia e a Alemanha, cresceram mais que nós, isso em um continente com uma grave crise. Para 2013, analistas estão mais otimistas em relação ao crescimento do produto.
Mesmo com a política de crédito não ter surtido efeito, não há indícios de que o governo utilize outro caminho. A taxa de juros básica da economia, a SELIC, tem tido quedas constantes, e estacionou em 7,5%. Pareceu uma boa notícia para um país que sofre de altas taxas de juros, mas se analisarmos a política mais detalhadamente, não vai parecer tão maravilhoso. Além da expectativa errônea que o crédito fácil gerou nos consumidores, os empresários provavelmente cometerão erros de investimento. O economista Fernando Ulrich demonstrou uma possibilidade de reestatização do crédito no Brasil, onde em pouco tempo o crédito fornecido pelos bancos estatais ultrapasse a metade do volume de crédito do país. O economista ainda afirma que BB e Caixa ainda receberiam R$ 8 bilhões e R$ 13 bilhões do Tesouro Nacional. Um dos aspectos mais interessantes da análise do Ulrich é sobre a alocação errônea de capital: os juros baixos e a consequente generosidade do crédito tem levado os empresários a formar expectativas erradas. Na minha visão, podemos considerar isso uma questão de Risco Hayekiano. A política de crédito governamental está levando a investimentos errôneos na economia pelo fato de distorcer os preços relativos na estrutura de capital. Bens de capital e bens de consumo são precificados corretamente quando os bancos estão mais livres dos desmandos de um governo que incentive o lado da demanda. Ulrich conclui que o capital está sendo precificado abaixo do seu preço de mercado, ou seja, o preço relativo do bem de capital pelo bem de consumo foi distorcido ao ponto de investimentos antes não lucrativos agora se tornaram.
Como o emprego de capital vai ser superficialmente estimulado, é provável que o crescimento de 2013 seja maior que em 2012. Acredito, no entanto, que os 4% do ministro Mantega para o crescimento do PIB em 2013 seja mais um chute errado como em 2012. O risco hayekiano, que basicamente defino como o risco de uma política de demanda de crédito por conta dos investimentos ruins, vai em algum momento, demonstrar a fragilidade da política econômica do governo Dilma. Tenho a péssima impressão de que essa “conta” não demorará a ser paga por conta de dois pontos principais: o primeiro é o argumento apresentado no início do artigo do Sachsida em relação aos gastos estatais. Como os gastos vão subir muito em 2013 e 2014, provavelmente teremos nossa dívida pública comprometida (o artigo do Fernando Ulrich também demonstra a fragilidade da nossa dívida). Isso vai gerar uma crise no setor público que afetará tanto nossas expectativas como o crescimento do produto. A segunda é o cenário internacional que não tem demonstrado melhora suficiente. Como os Estados Unidos e a Europa ainda estão não crescendo bem, e a crise ainda permeia alguns países, não é descartável acreditar que teremos mais períodos de recessões. Vários economistas afirmam que a política de facilitação de crédito do Fed e que a falta de medidas mais conservadores nos países europeus vai acarretar uma crise pior que a de 2008 nos próximos anos. Dada essa instabilidade no cenário internacional, a posição do Brasil vai ficar frágil o bastante para que nossos investimentos ruins se mostrem ativos sem valor algum para sustentar o crescimento do produto. Sem a ajuda do aumento da demanda externa que permitiu que durante o governo Lula o país crescesse (pouco, mas cresceu), estamos perdidos.
Inflação
E os preços? Qual tem sido o efeito para os brasileiros em relação à inflação? Como todos sabem o Brasil já sofreu de níveis recordes de inflação. O problema foi resolvido pela gestão de Fernando Henrique Cardoso com o Plano Real. Até hoje a herança de FHC tem permitido que desfrutemos de um cenário longe de hiperinflação. O Banco Central estabelece como meta de inflação 4,5% com uma tolerância de dois percentuais. Vejamos abaixo o IPCA de 2011 e 2012:
Período | Geral | |
2011 | Jan | 5,99 |
Fev | 6,01 | |
Mar | 6,30 | |
Abr | 6,51 | |
Mai | 6,55 | |
Jun | 6,71 | |
Jul | 6,87 | |
Ago | 7,23 | |
Set | 7,31 | |
Out | 6,97 | |
Nov | 6,64 | |
Dez | 6,50 | |
2012 | Jan | 6,22 |
Fev | 5,85 | |
Mar | 5,24 | |
Abr | 5,10 | |
Mai | 4,99 | |
Jun | 4,92 | |
Jul | 5,20 | |
Ago | 5,24 | |
Set | 5,28 | |
Out | 5,45 | |
Nov | 5,53 |
Como visto, a política monetária do Banco Central tem sido frouxa e permitido que os preços subam. Alimentação e bebidas aumentaram 10,08% em novembro de 2012. No mesmo mês, habitação, vestuário, saúde, despesas pessoas e educação tiveram aumentos acima de 5%. A inflação é ruim porque corrói o poder de compra do consumidor e o mais pobre é sempre o mais afetado. Temos visto uma aceleração das expectativas inflacionárias no país e o abandono gradual do Banco Central a meta de inflação de 4,5%. O problema é que as metas inflacionárias representam parte fundamental da política econômica de um país que queira se manter na rota do desenvolvimento econômico. Mas o ministro da Fazenda Guido Mantega acredita que uma política de estímulo à demanda através da política monetária expansionista vai fazer com o produto aumente. Ou seja, a política vai continuar e as expectativas vão continuar piorando. Isso significa que nos próximos anos podemos esperar um taxa de crescimento maior da inflação.
Infelizmente, o Brasil tem perdido a credibilidade. Abandonar as metas de inflação é um erro grave para investidores internacionais. E o pior é que no lugar de combater o problema, tem surgido entre a equipe econômica governamental e outros economistas pró-governo rumores de que o problema é na verdade o cálculo do IBGE ao formular o IPCA! O IBGE, em minha opinião, não é inteiramente confiável, sempre acho que o índice deles está otimista para proteger o governo. Por se tratar de um órgão do governo, fica fácil distorcer os números. Podemos esperar no futuro mais distorções como está acontecendo na Argentina. Sempre disse a amigos que achava que nossa inflação esse ano iria para patamares de 7% a 8%. O IGP-M fechou o ano em 7,82%. Um número que de fato é mais realista que o do IPCA… Será que o governo já começou a manipular as estatísticas? Não tenha dúvida.
Há como reverter ainda um possível cenário de inflação acelerada, mas o governo parece não estar disposto a isso. Não ficarei surpreso se em poucos anos nossa inflação ficar em torno de 20%.
Planejamento
Lembro que ao ler O Caminho da Servidão de Friedrich von Hayek eu ficava a cada capítulo perplexo por uma obra de 1944 ser tão atual. O governo brasileiro sempre foi fortemente intervencionista. Atualmente, isso não mudou. O governo petista acredita que planejamentos estatais são a nossa salvação para alcançar o desenvolvimento. O nível de sovietismo está se tornando alarmantes. O governo acha que pode controlar o preço da energia com canetadas e já ouvimos avisos de que passaremos por um apagão nos próximos anos. A situação está tão crítica que o governo resolveu privatizar alguns aeroportos, medida odiada pelo petismo, mas necessária pelo pragmatismo.
O Tribunal de Contas da União (TCU) normalmente aponta irregularidades nas obras do governo federal. Recentemente, em matéria do Valor Econômico, o TCU recomendou a paralisação de 22 obras, sendo 12 do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Foram encontradas irregularidades em outras 96 obras. Economistas chamados de novos-institucionalistas e teóricos da escolha pública já demonstraram incansavelmente que o governo é pouco ineficiente para realizar obras. A corrupção e o rent-seeker (empresário que busca ganhar renda fazendo lobby, e não através da justa competição no mercado) são fatos que inviabilizam o setor público brasileiro de ser eficiente. O que vemos sempre são notícias de dinheiro público desperdiçado e administrações incompetentes.
Precisamos ser repetitivos e dizer que o que falta ao Brasil são reformas estruturais que o governo Dilma não está fazendo. Diminuir a presença do estado não é questão mais de ser a favor do liberalismo econômico, é questão de elevar a eficiência do gasto em infraestrutura. Enquanto o governo achar que pode planejar a economia, estaremos perdidos. Como já falaram anteriormente, a atual década de 10 pode se tornar uma reprise da década de 1980 para nossa nação. No Brasil, demoramos 119 dias para iniciar um negócio. Nós somos o 130º país no ranking para iniciar um negócio. Somos a 48ª economia do mundo em competição. Estamos atrás da Coréia do Sul, do Panamá, do Chile, de Porto Rico, da China, da Tailândia, da Turquia e do Azerbaijão. Segundo relatório de competitividade do Fórum Econômico Mundial os principais problemas apontados do Brasil são:
Área | Valor |
Regulamentos tributários | 18,7% |
Inadequada oferta de infraestrutura | 17,5% |
Taxas tributárias | 17,2% |
Ineficiência do governo | 11,1% |
Regulamentações trabalhistas | 10,1% |
Educação inadequada da força de trabalho | 7,4% |
Corrupção | 6% |
Acesso a crédito | 3,9% |
Regulamentações de moeda estrangeira | 2,1% |
Insuficiência de capacidade inovadora | 1,8% |
Existem outras áreas, mas essas são as principais. Desses 10 problemas, 7 são ligados diretamente ao poder público, e os outros indiretamente.
Conclusão
Os números e previsões são pouco otimistas para o mundo, e se tornam piores ainda quando se fala do Brasil. Não adianta apontar para outros países e dizer que estão pior que nós, e por isso crescemos pouco. O Chile provavelmente se tornará um país desenvolvido em 2020, erradicando a pobreza e ultrapassando os US$ 20 mil em renda per capita. Isso contando que durante 2000 e 2011 nossa renda per capita cresceu 317% e a dos chilenos 279%. Todavia, estamos em processo de estagnação e eles se recuperando da crise mundial. Enquanto fechamos nosso país, o governo chileno já zerou sua alíquota de comércio internacional com vários países. São vários exemplos que tornariam esse artigo demasiado longo. Os números e a boa teoria econômica corroboram as previsões realistas do Sachsida. O que nos resta é protestar contra essas medidas de planejamento central e rezar para que os tempos melhorem.
Leituras:
http://mises.org.br/Article.aspx?id=1492
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,um-calote–de-r-44-bilhoes-,978959,0.htm