Crise em 2015?

Esse artigo é baseado nas previsões que li do economista Adolfo Sachsida. Segundo esse brilhante economista, estamos prestes a entrar num período de turbulência econômica no Brasil que vai gerar sérios estragos. A tragédia é equiparada ao que houve no Brasil na década de 1980, quando erros da década de 1970 foram responsáveis pela crise brasileira. Segundo o Sachsida, o governo tem trabalhado apenas em soluções de demanda agregada, renegando reformas importantes, como a da legislação trabalhista, a previdenciária e a tributária. Ou seja, o governo deveria focar em políticas do lado da oferta. Ao expandir o crédito e os gastos públicos, o governo tem sido um péssimo condutor de política econômica.  Além disso, nos próximos anos, por conta da Copa do Mundo e das eleições o gasto público vai aumentar, endividando mais ainda o governo. O resultado? Crise econômica. Pretendo nesse artigo explorar mais essa visão que podemos chamar de crítica em relação à política econômica oficial.

Durante o governo Lula, milhões de brasileiros saíram da pobreza e aumentaram sua renda e se depararam com uma política de crédito fácil: além de ficaram comparativamente mais ricos, ficou mais fácil pegar dinheiro emprestado. Segundo matéria do Estadão em 30 de dezembro, no ano de 2012 consumidores deram um calote de R$ 44 bilhões. Isso mesmo: pegaram emprestado e não puderam pagar. O governo facilitou o crédito e fez com as pessoas criassem expectativas erradas: como estavam aumentando de renda, poderiam se endividar. O leitor pode tomar o seu dia-a-dia como exemplo: nos últimos anos, notou que ficou mais fácil ter cartões de crédito com limites altos? Que ficou mais fácil se endividar em valores que igualam ou até superam o próprio salário? Os principais responsáveis por essa farra de crédito foram os bancos federais. Essa atitude trouxe para o mercado de crédito maus pagadores e os bancos privados já estão ajustando suas expectativas. O problema é que o governo Dilma insiste nessa política, e bancos privados estão sendo pressionados a fazer o mesmo que os bancos federais. Por quê? O atual governo confia na política de demanda agregada: se o governo incentivar o consumo, o nosso produto vai crescer o desemprego diminuir, isso vai evitar que o Brasil seja vítima de flutuações econômicas. Além do crédito, o governo tem cortado impostos para alguns bens, como eletrodomésticos e carros. Mas isso não indica nenhum caminho em relação a uma política de oferta, porque em contraponto o governo aumentou vários impostos, principalmente de importação, para proteger a indústria nacional. Mas como essa política está se saindo? Vamos aos números do PIB:

Acumuladas ao longo do ano 2011     2012    
     
  II III IV I I III
             
             
PIB a preços de mercado 3,76 3,20 2,73 0,75 0,62 0,70
PIB (valor adicionado a preços básicos) 3,36 2,89 2,47 0,60 0,53 0,62
     Agropecuária 1,17 2,82 3,90 -8,54 -3,00 -1,03
     Indústria 2,94 2,25 1,58 0,07 -1,22 -1,12
     Serviços 3,84 3,20 2,73 1,58 1,54 1,48
Fonte: IBGE

O PIB tem tido um mau desempenho em 2012, no último semestre registramos alta de 0,62%, mas com queda na agropecuária e na indústria (apenas o setor de serviços cresceu). Em 2009, com a crise financeira, o PIB caiu 0,3%, e em decorrência disso, em 2010 o PIB cresceu 7,5%. Não é um número bom ou espetacular dado que anteriormente o produto havia caído. Em 2011 nós tivemos um crescimento de 2,7%, ficando atrás do Chile, com 6%, e da China, com 9,3%. Em 2012 o PIB deve ficar em torno de 1%, um péssimo número. O ministro Guido Mantega tem colocado a culpa no cenário internacional e argumentado que o PIB europeu também está crescendo pouco. Todavia, este parece um argumento ruim dado o crescimento de outros emergentes, como o Chile, a China e a Índia, que cresceram mais que o dobro do Brasil. Na realidade, em 2011, até alguns países europeus, como a Suécia e a Alemanha, cresceram mais que nós, isso em um continente com uma grave crise. Para 2013, analistas estão mais otimistas em relação ao crescimento do produto.

Mesmo com a política de crédito não ter surtido efeito, não há indícios de que o governo utilize outro caminho. A taxa de juros básica da economia, a SELIC, tem tido quedas constantes, e estacionou em 7,5%. Pareceu uma boa notícia para um país que sofre de altas taxas de juros, mas se analisarmos a política mais detalhadamente, não vai parecer tão maravilhoso. Além da expectativa errônea que o crédito fácil gerou nos consumidores, os empresários provavelmente cometerão erros de investimento. O economista Fernando Ulrich demonstrou uma possibilidade de reestatização do crédito no Brasil, onde em pouco tempo o crédito fornecido pelos bancos estatais ultrapasse a metade do volume de crédito do país. O economista ainda afirma que BB e Caixa ainda receberiam R$ 8 bilhões e R$ 13 bilhões do Tesouro Nacional. Um dos aspectos mais interessantes da análise do Ulrich é sobre a alocação errônea de capital: os juros baixos e a consequente generosidade do crédito tem levado os empresários a formar expectativas erradas. Na minha visão, podemos considerar isso uma questão de Risco Hayekiano. A política de crédito governamental está levando a investimentos errôneos na economia pelo fato de distorcer os preços relativos na estrutura de capital. Bens de capital e bens de consumo são precificados corretamente quando os bancos estão mais livres dos desmandos de um governo que incentive o lado da demanda. Ulrich conclui que o capital está sendo precificado abaixo do seu preço de mercado, ou seja, o preço relativo do bem de capital pelo bem de consumo foi distorcido ao ponto de investimentos antes não lucrativos agora se tornaram.

Como o emprego de capital vai ser superficialmente estimulado, é provável que o crescimento de 2013 seja maior que em 2012. Acredito, no entanto, que os 4% do ministro Mantega para o crescimento do PIB em 2013 seja mais um chute errado como em 2012. O risco hayekiano, que basicamente defino como o risco de uma política de demanda de crédito por conta dos investimentos ruins, vai em algum momento, demonstrar a fragilidade da política econômica do governo Dilma. Tenho a péssima impressão de que essa “conta” não demorará a ser paga por conta de dois pontos principais: o primeiro é o argumento apresentado no início do artigo do Sachsida em relação aos gastos estatais. Como os gastos vão subir muito em 2013 e 2014, provavelmente teremos nossa dívida pública comprometida (o artigo do Fernando Ulrich também demonstra a fragilidade da nossa dívida). Isso vai gerar uma crise no setor público que afetará tanto nossas expectativas como o crescimento do produto. A segunda é o cenário internacional que não tem demonstrado melhora suficiente. Como os Estados Unidos e a Europa ainda estão não crescendo bem, e a crise ainda permeia alguns países, não é descartável acreditar que teremos mais períodos de recessões. Vários economistas afirmam que a política de facilitação de crédito do Fed e que a falta de medidas mais conservadores nos países europeus vai acarretar uma crise pior que a de 2008 nos próximos anos. Dada essa instabilidade no cenário internacional, a posição do Brasil vai ficar frágil o bastante para que nossos investimentos ruins se mostrem ativos sem valor algum para sustentar o crescimento do produto. Sem a ajuda do aumento da demanda externa que permitiu que durante o governo Lula o país crescesse (pouco, mas cresceu), estamos perdidos.

Inflação

E os preços? Qual tem sido o efeito para os brasileiros em relação à inflação? Como todos sabem o Brasil já sofreu de níveis recordes de inflação. O problema foi resolvido pela gestão de Fernando Henrique Cardoso com o Plano Real. Até hoje a herança de FHC tem permitido que desfrutemos de um cenário longe de hiperinflação. O Banco Central estabelece como meta de inflação 4,5% com uma tolerância de dois percentuais. Vejamos abaixo o IPCA de 2011 e 2012:

Período Geral
     
     
     
2011 Jan 5,99
Fev 6,01
Mar 6,30
Abr 6,51
Mai 6,55
Jun 6,71
Jul 6,87
Ago 7,23
Set 7,31
Out 6,97
Nov 6,64
Dez 6,50
2012 Jan 6,22
Fev 5,85
Mar 5,24
Abr 5,10
Mai 4,99
Jun 4,92
Jul 5,20
Ago 5,24
Set 5,28
Out 5,45
Nov 5,53

Como visto, a política monetária do Banco Central tem sido frouxa e permitido que os preços subam. Alimentação e bebidas aumentaram 10,08% em novembro de 2012. No mesmo mês, habitação, vestuário, saúde, despesas pessoas e educação tiveram aumentos acima de 5%. A inflação é ruim porque corrói o poder de compra do consumidor e o mais pobre é sempre o mais afetado. Temos visto uma aceleração das expectativas inflacionárias no país e o abandono gradual do Banco Central a meta de inflação de 4,5%. O problema é que as metas inflacionárias representam parte fundamental da política econômica de um país que queira se manter na rota do desenvolvimento econômico. Mas o ministro da Fazenda Guido Mantega acredita que uma política de estímulo à demanda através da política monetária expansionista vai fazer com o produto aumente. Ou seja, a política vai continuar e as expectativas vão continuar piorando. Isso significa que nos próximos anos podemos esperar um taxa de crescimento maior da inflação.

Infelizmente, o Brasil tem perdido a credibilidade. Abandonar as metas de inflação é um erro grave para investidores internacionais. E o pior é que no lugar de combater o problema, tem surgido entre a equipe econômica governamental e outros economistas pró-governo rumores de que o problema é na verdade o cálculo do IBGE ao formular o IPCA! O IBGE, em minha opinião, não é inteiramente confiável, sempre acho que o índice deles está otimista para proteger o governo. Por se tratar de um órgão do governo, fica fácil distorcer os números. Podemos esperar no futuro mais distorções como está acontecendo na Argentina. Sempre disse a amigos que achava que nossa inflação esse ano iria para patamares de 7% a 8%. O IGP-M fechou o ano em 7,82%. Um número que de fato é mais realista que o do IPCA… Será que o governo já começou a manipular as estatísticas? Não tenha dúvida.

Há como reverter ainda um possível cenário de inflação acelerada, mas o governo parece não estar disposto a isso. Não ficarei surpreso se em poucos anos nossa inflação ficar em torno de 20%.

Planejamento

Lembro que ao ler O Caminho da Servidão de Friedrich von Hayek eu ficava a cada capítulo perplexo por uma obra de 1944 ser tão atual. O governo brasileiro sempre foi fortemente intervencionista. Atualmente, isso não mudou. O governo petista acredita que planejamentos estatais são a nossa salvação para alcançar o desenvolvimento. O nível de sovietismo está se tornando alarmantes. O governo acha que pode controlar o preço da energia com canetadas e já ouvimos avisos de que passaremos por um apagão nos próximos anos. A situação está tão crítica que o governo resolveu privatizar alguns aeroportos, medida odiada pelo petismo, mas necessária pelo pragmatismo.

O Tribunal de Contas da União (TCU) normalmente aponta irregularidades nas obras do governo federal. Recentemente, em matéria do Valor Econômico, o TCU recomendou a paralisação de 22 obras, sendo 12 do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Foram encontradas irregularidades em outras 96 obras. Economistas chamados de novos-institucionalistas e teóricos da escolha pública já demonstraram incansavelmente que o governo é pouco ineficiente para realizar obras. A corrupção e o rent-seeker (empresário que busca ganhar renda fazendo lobby, e não através da justa competição no mercado) são fatos que inviabilizam o setor público brasileiro de ser eficiente. O que vemos sempre são notícias de dinheiro público desperdiçado e administrações incompetentes.

Precisamos ser repetitivos e dizer que o que falta ao Brasil são reformas estruturais que o governo Dilma não está fazendo. Diminuir a presença do estado não é questão mais de ser a favor do liberalismo econômico, é questão de elevar a eficiência do gasto em infraestrutura. Enquanto o governo achar que pode planejar a economia, estaremos perdidos. Como já falaram anteriormente, a atual década de 10 pode se tornar uma reprise da década de 1980 para nossa nação. No Brasil, demoramos 119 dias para iniciar um negócio. Nós somos o 130º país no ranking para iniciar um negócio. Somos a 48ª economia do mundo em competição. Estamos atrás da Coréia do Sul, do Panamá, do Chile, de Porto Rico, da China, da Tailândia, da Turquia e do Azerbaijão. Segundo relatório de competitividade do Fórum Econômico Mundial os principais problemas apontados do Brasil são:

Área Valor
Regulamentos tributários 18,7%
Inadequada oferta de infraestrutura 17,5%
Taxas tributárias 17,2%
Ineficiência do governo 11,1%
Regulamentações trabalhistas 10,1%
Educação inadequada da força de trabalho 7,4%
Corrupção 6%
Acesso a crédito 3,9%
Regulamentações de moeda estrangeira 2,1%
Insuficiência de capacidade inovadora 1,8%

Existem outras áreas, mas essas são as principais. Desses 10 problemas, 7 são ligados diretamente ao poder público, e os outros indiretamente.

Conclusão

Os números e previsões são pouco otimistas para o mundo, e se tornam piores ainda quando se fala do Brasil. Não adianta apontar para outros países e dizer que estão pior que nós, e por isso crescemos pouco. O Chile provavelmente se tornará um país desenvolvido em 2020, erradicando a pobreza e ultrapassando os US$ 20 mil em renda per capita. Isso contando que durante 2000 e 2011 nossa renda per capita cresceu 317% e a dos chilenos 279%. Todavia, estamos em processo de estagnação e eles se recuperando da crise mundial. Enquanto fechamos nosso país, o governo chileno já zerou sua alíquota de comércio internacional com vários países. São vários exemplos que tornariam esse artigo demasiado longo. Os números e a boa teoria econômica corroboram as previsões realistas do Sachsida. O que nos resta é protestar contra essas medidas de planejamento central e rezar para que os tempos melhorem.

Leituras:

http://www.valor.com.br/brasil/2886136/tcu-recomenda-paralisacao-de-22-obras-federais-de-infraestrutura

http://mises.org.br/Article.aspx?id=1492

http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,um-calote–de-r-44-bilhoes-,978959,0.htm

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